Lesão por pressão em pacientes com Covid-19: quais protocolos seguir e quais cuidados a equipe de saúde deve tomar

A pandemia trouxe novos desafios aos profissionais da saúde e alguns procedimentos em relação à Lesão por Pressão tiveram de ser repensados

Por

A lesão por pressão (LP) é uma adversidade hospitalar frequente em pacientes internados. “Ela acontece como resultado da pressão exercida pelo peso corporal projetado sobre as proeminências ósseas e consequentemente sobre a pele e tecidos subjacentes, que encontra na superfície de apoio a pressão na direção contrária, o que ocasiona a interrupção da circulação local e consequente morte tecidual”, explica a especialista em Enfermagem Dermatológica, Mariana Takahashi Ferreira Costa*.

A LP – chamada de úlcera por pressão até 2016 – pode se apresentar em pele íntegra ou como úlcera aberta, podendo causar dores agudas. A ferida ocorre como resultado da pressão intensa e prolongada em combinação com o cisalhamento, que é causado pela interação da gravidade com a fricção, exercendo forças paralelas na pele. Os exemplos mais comuns de cisalhamento ocorrem quando:

• a cabeceira da cama é elevada acima de 30°, na qual o esqueleto tende a escorregar, devido a gravidade, mas a pele permanece no lugar. A fricção criada pela força de duas superfícies, movendo-se uma sobre a outra, provoca a remoção das células epiteliais, causando abrasões e lesões semelhantes a queimaduras de segundo grau;

• arrasta-se o paciente no leito, em vez de levantá-lo.

Perfil de pacientes suscetíveis à lesão por pressão

“Em especial os pacientes com baixa mobilidade, como consequência de fatores intrínsecos, extrínsecos ou situacionais. Todas as pessoas que passam muito tempo em uma única posição, sem alívio da pressão sobre aquela parte da superfície corpórea, têm risco para desenvolver uma lesão por pressão”, explica Mariana.

A tolerância do tecido à pressão e à isquemia depende da natureza do próprio tecido e é influenciada pelas estruturas de suporte, como vasos sanguíneos, colágeno e fluido intersticial, além de poder ser mais afetado pelo microclima, nutrição, perfusão, comorbidades e condição do tecido mole.

Mas há pacientes que estão mais suscetíveis à LP, como acrescenta ela. “Idade avançada, baixo peso corporal, obesidade e imunidade deficiente são condições que aumentam este risco. A idade avançada e déficit de imunidade têm como característica a fragilidade da pele, tornando-a mais suscetível a danos. No baixo peso corporal, há déficit de tecidos de acolchoamento, músculos e gordura, para distribuir a pressão do peso corpóreo projetado sobre as proeminências ósseas e assim diminuir a pressão exercida sobre a pele. Na obesidade há sobrecarga de pressão sobre estas proeminências, acelerando o dano tecidual”.

As LPs e os pacientes internados com Covid-19

Com a pandemia, as lesões por pressão surgiram em lugares diferentes dos que comumente eram vistos. Antes do Covid-19 as lesões mais comuns surgiam em áreas como:

• isquiática;

• sacrococcígea;

• trocantérica;

• calcânea;

• maléolos laterais.

Durante a pandemia, pode-se notar as mudanças de padrão dessas lesões em pacientes com Covid-19. As LPs passaram a ser na área frontal, devido a posição prona do paciente, em locais como:

• testa;

• nariz;

• queixo;

• seios;

• joelho.

De acordo com Mariana, “as lesões por pressão em pacientes com COVID se desenvolvem da mesma forma, porém de maneira mais rápida e agressiva, tendo como característica atingir planos mais profundos rapidamente e com grandes extensões. Este acometimento agressivo dos tecidos tem como causa a inflamação disseminada causada pelo vírus, incluindo os vasos sanguíneos (vasculite). Com o acometimento dos vasos sanguíneos, o suprimento de sangue para os tecidos fica prejudicado. Somando-se à pressão exercida sobre as proeminências ósseas, o dano tecidual é acelerado”.

Por isso, o tratamento de LPs em pacientes contaminados é o mesmo que em outros pacientes. “Uma vez a lesão instalada, o tratamento deve ser baseado nos achados da avaliação clínica do paciente e do leito da ferida”, lembra Mariana.

A National Pressure Injury Advisory Panel lançou um pequeno manual com mais detalhes para a prevenção de LP na posição prona, que vale conferir.

Mariana também destaca que além dos cuidados relacionados à prevenção da disseminação da doença, os cuidadores devem ser adequadamente orientados quanto às medidas para prevenção ou tratamento das LPs, com treinamento da rede de suporte para a prestação destes cuidados. “As estratégias de prevenção são as mesmas que para outros pacientes, com a observação de que pacientes pronados devem ter a mudança de posição rigorosamente a cada duas horas, sempre observando a posição do nadador”.

Por isso, a especialista afirma que “a adoção de protocolos de prevenção se mostra fundamental, pois, além das medidas de higiene e hidratação da pele, mudança de decúbito, proteção das proeminências ósseas, o uso de tecnologias indicadas pelos consensos e guidelines são de suma importância. A implementação de coberturas desenvolvidas para distribuir a pressão e diminuir a fricção, posicionadores adequados e superfícies de apoio altamente especializadas deve constar na lista de prioridades para a assistência segura a estes pacientes. Embora a prática clínica tenha me mostrado o quão desafiador é evitar que uma LP se desenvolva em pacientes com COVID, as medidas preventivas minimizarão os danos provocados à pele”.

 A equipe de saúde também está sujeita à LP

Muitos profissionais têm apresentado lesões de pele devido ao uso intensivo de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante as longas horas de trabalho. O motivo é o uso constante de EPIs como as máscaras N-95/FFP2 – ou equivalentes –, e óculos de proteção – imprescindíveis para os profissionais que prestam assistência direta ao paciente com suspeita ou confirmação de Covid-19.

Apesar de ainda não haver estudos suficientes sobre o tema que elenquem medidas que protejam o profissional a desenvolver lesões devido ao uso de EPIs, são recomendadas medidas com base nos protocolos voltados para os pacientes em uso de ventilação não invasiva, baseados nas mesmas forças mecânicas (pressão e cisalhamento). As principais recomendações descritas sobre LP são os cuidados com a pele, como hidratação e aplicação de produtos protetores que permitam a vedação do equipamento de proteção individual.

*Mariana Takahashi Ferreira Costa

Mestre em Ciências – Alterações da Integridade Mucocutânea – UNIFESP

Especialista em Enfermagem Dermatológica – SOBENDE

Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas CUIDAR-TE/UNIFESP

Organizadora do livro Feridas – Prevenção, Causas e Tratamento

Consultora, palestrante – Cicatrização, Podiatria, Diabetes

Presidente do Grupo de Prevenção e Tratamento de Feridas – IIER

Supervisora – Ambulatório de Especialidades – IIER

Membro do Departamento de Podiatria – SOBENDE

Compartilhar

Facebook
Twitter
WhatsApp

RECOMENDADAS PARA VOCÊ