O avanço exponencial da telemedicina no Brasil
A telemedicina ganhou destaque em tempos de isolamento social e surgiu como uma tecnologia-chave para fornecer serviços médicos aos pacientes, enquanto auxilia na redução da transmissão de COVID-19 entre pacientes, famílias e médicos.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde mostra que a telemedicina é utilizada em aproximadamente 114 países, onde em 70% deles as aplicações de telemedicina resultaram em uma redução de custo. Também houve aumento no oferecimento de serviços locais.
A telemedicina possibilita o acesso médico a muito mais pessoas, seja por questões geográficas ou mesmo econômicas, onde a população consegue ser consultada ou monitorada por especialistas, através do uso da voz e da imagem.
Com a pandemia, o uso da telemedicina cresceu significativamente. Em poucas semanas, o COVID-19 transformou a prática de cuidados paliativos e a medicina clínica como a conhecemos.
A telemedicina basicamente tem quatro áreas onde é mais comumente aplicada:
•telerradiologia: ao acessar exames de raio-X pela internet, tanto pelo médico, quanto pelo paciente. Esse segmento é responsável por mais ou menos 40% das aplicações de telemedicina;
• teledermatologia: quando o médico examina a pele do paciente através da câmera do smartphone. Mas o principal desafio ainda é a qualidade da câmera utilizada, que não consegue identificar certos padrões de pele;
• telepatologia: também conhecido como telemicroscopia, é o exame de amostras patológicas, que usa meios como telecomunicações para a transmissão remota desses dados;
• telepsicologia: há uma gama de estudo, há pelo menos duas décadas, sobre terapia online com grandes indícios de eficácia. Porém, para pacientes com comprometimento mental mais graves, há muitas dificuldades ainda.
Apesar de mais tecnologia envolvida nesta modalidade de cuidado, a redução de custo para instituições e pacientes é notória, pois o paciente economiza tempo e recursos em sua locomoção até o hospital ou consultório e as instituições economizam com menos espaços ocupados, como os leitos por exemplo.
Surgimento da telemedicina
É fácil associar a telemedicina com a internet, mas as tecnologias que permitiram essa modalidade já no século XIX foram o telégrafo e o telefone, com o envio de laudos de exames e um eletrocardiograma, cujos sinais foram emitidos via telefone.
Com a invenção do estetoscópio, em 1910, era possível transmitir esses sinais em um raio de 80 quilômetros.
Foi Segunda Guerra Mundial que ocorreu a telemedicina mais global, onde médicos do mundo todo trocavam informações via rádio.
Já na década de 1960, nos Estados Unidos, foi criado um sistema de comunicação entre hospitais. O sistema permitia também a realização de videoconferências entre pacientes e familiares, que muitas vezes se comunicavam de lugares distantes uns dos outros.
Pouco tempo depois, durante a corrida espacial nos anos 1970, os astronautas da NASA eram acompanhados à distância por médicos, que foram treinados para tal serviço. Foi um grande salto para a área da saúde digital também, pois pôde se estudar o efeito da gravidade no corpo humano, com a criação de sistemas de sensores para monitorar os astronautas. Só então, essa tecnologia foi utilizada para o público em geral.
Telemedicina e telessaúde: quais as diferenças?
Resumidamente, a telemedicina é a prática da Medicina que usa alguma tecnologia para realizar o cuidado à distância. Já a telessaúde é toda tecnologia desenvolvida (os meios) para que o cirurgião, por exemplo, consiga fazer uma cirurgia à distância, seja a metros ou a milhares de quilômetros do paciente.
A telemedicina no Brasil
No período da pandemia de Covid-19, houve um aumento substancial da demanda de serviços por telemedicina. As instituições que ofereciam serviços médicos, como clínicas, operadoras de saúde, empresas e hospitais tiveram importante aumento de demanda. A maioria dos pacientes que utilizaram telemedicina teve uma percepção positiva dessa modalidade de atendimento.
Mas aqui no país, a consulta online não é novidade. A primeira regulamentação da telemedicina no Brasil foi feita em 2002. Porém, a primeira consulta entre médico e paciente não podia ser online. Com a pandemia, houve flexibilizações em caráter de emergência. O Conselho Federal de Medicina (CFM) continua com cautela sobre a primeira consulta não presencial, mas os retornos, acompanhamentos, de atestados de pacientes conhecidos, são bem recebidos. Mesmo assim, o CFM não promete manter essas flexibilizações, ao editar uma nova regulamentação no fim de 2020.
De acordo com o estudo Global Summit Telemedicine & Digital Health 2020, realizado pela Associação Paulista de Medicina com 2.258 médicos brasileiros de 55 especialidades, antes mesmo da pandemia, 65,19% deles já utilizavam aplicativos de mensagens para interagir com seus pacientes fora das clínicas e hospitais.
A saúde pública também está utilizando a telemedicina durante a pandemia. De acordo com o Ministério da Saúde, desde abril, o TeleSus atendeu 73,3 milhões de pacientes que fizeram consultas remotas via aplicativo.
Muito além do teleatendimento
Um ponto importante da telemedicina é promover cuidados integrados e multiprofissionais. Além da medicina, há a cadeia de profissionais de saúde. Isso é uma grande força da humanização utilizando ferramentas tecnológicas.
No geral, a telemedicina engloba duas vertentes:
• a tele-educação, onde é possível trabalhar a educação continuada, com profissionais médicos ou de outras áreas da Saúde e pacientes;
• A teleassistência, que envolve a teleconsulta, a teleinterconsulta, os telemonitoramentos, o telediagnóstico e a teletriagem.
A melhoria das tecnologias de comunicação e de informação ao longo do tempo, como o lançamento do primeiro smartphone em 2007, permite toda uma nova possibilidade de aplicação dessas tecnologias na prática médica. Por isso é preciso investir também na qualificação dos profissionais da saúde como um todo, que precisam estar cada vez mais capacitados e saber atender seus pacientes de forma mais humanizada.
Os principais desafios
Um dos principais questionamentos sobre a telemedicina é de que forma ocorre seu desenvolvimento e como ele deve se manter alinhado à prática médica tradicional. A telemedicina não é uma ferramenta, mas uma nova maneira de construir uma relação com os pacientes.
Ela é muito útil para a aproximação entre médico e paciente, mas ainda há certos ruídos criados devido à distância. Por exemplo, este artigo da Jama Dermatology mostra que entre 25 e 30% dos casos tratados por teledermatologia resulta em falso positivo ou falso negativo no diagnóstico. Isso mostra a necessidade de melhorar os métodos, como a qualidade da câmera utilizada, da transmissão etc.
Na pediatria também há alguns percalços. Além de o paciente não conseguir se comunicar pela fala, muitas vezes, o exame clínico visual e físico, imprescindíveis para o diagnóstico, também se perdem.
A insistência na tentativa de diagnóstico sem examinar o paciente pode levar o médico ao aumento da possibilidade de erro de diagnóstico e gerar um problema que pode levar a muitos outros. Por isso, é importante que os lados envolvidos conheçam os limites que a tecnologia ainda impõe para a telemedicina, para que o erro de diagnóstico não coloque, consequentemente, o paciente em risco.
Há ainda, grande parcela da população brasileira sem acesso a sinal telefônico e de internet e quando possui, o serviço prestado é de má qualidade, impossibilitando um atendimento médico.
A telemedicina é irreversível
Assim como a tecnologia, a telemedicina veio para ficar e para fazer parte do nosso dia a dia. Do mesmo jeito que se cuida dos pacientes clinicamente em alguns momentos ou cirurgicamente em outros, agora há a opção de cuidar deles também virtualmente.
A Telemedicina não é um recurso que resolve todos os problemas: ela é efetivamente um novo modo de cuidar, que utiliza várias ferramentas para ser feita, como os recursos de comunicação, áudio e vídeo, os prontuários eletrônicos, as ferramentas de captação de sinais vitais e as de segurança de identidade.
Para a saúde pública, é fundamental que essas aplicações de medicina sejam ampliadas urgentemente para controle da doença e monitoramento de pacientes com doenças crônicas e dificuldade de locomoção.
Por isso, mais do que uma telemedicina focada em serviços, é preciso melhorar o planejamento, através do enfoque em logística da saúde. Promover cuidados integrados de cuidado de saúde ao paciente e usar a tecnologia de forma inteligente para conquistar mais qualidade de vida e de saúde para todos os envolvidos neste processo.